- Desde o seu primeiro encontro com Bachar el-Assad, Hugo Chávez afirmava que ele se tornaria o principal líder revolucionário no mundo.
- Bachar el-Assad não desejava entrar na política. Tinha destinado a ser oftalmologista. No entanto, aquando da morte do seu irmão Bassel, regressou do Reino-Unido, onde prosseguia os seus estudos, e aceitou servir a sua pátria e o seu pai. À morte deste. consentiu em suceder-lhe para manter a unidade do país. Os seus primeiros anos de governo foram passados numa tentativa de modificar a composição das classes sociais de modo a tornar possível um sistema democrático, que ninguém lhe exigia. Pacientemente, desmantelou o sistema autoritário do passado e começou a associar a população à vida pública.
Qual não foi a sua surpresa, no início dos acontecimentos, ao receber uma comissão do burgo sírio onde se tinha dado a principal manifestação e ouvir a mesma exigir-lhe, como única reivindicação, a expulsão dos alauítas da cidade. Revoltado, pôs fim à reunião e decidiu defender até às últimas a civilização síria da «vivência em conjunto».
Durante três anos o tímido médico transformou-se em cabo de guerra. Primeiro apoiado, quase exclusivamente, pelo seu exército, depois progressivamente envolvido pelo seu povo, ele foi eleito, em plena guerra, para um terceiro mandato por 88,7% dos sufrágios expressos, ou seja 65% do corpo eleitoral. O seu discurso de investidura mostra até que ponto ele mudou no decurso dos acontecimentos [1].
O ideal que ele aí exprimiu foi primeiro o do serviço da Pátria repúblicana. Bateu-se para defender aqueles homens e mulheres, que destinavam a viver sob o castigo de uma ditadura religiosa ao serviço do imperialismo. E, por vezes, bateu-se por eles contra a sua vontade. Assumiu a defesa deles duvidando ser bem sucedido, preferindo morrer pela Justiça que aceitar o exílio dourado, mas vergonhoso, que lhe propunham os «Ocidentais».
Ora, pouco antes, os ditadores Zine el-Abidine Ben Ali e Hosni Moubarak tinham cedido às primeiras ordens de Washington e deixaram os seus países nas mãos dos Irmãos muçulmanos. Pior, o autocrata Hamad ben Khalifa Al Thani tinha abdicado, como uma criança dócil, ao primeiro franzir de sobrolho de Barack Obama, preferindo desfrutar a sua fortuna roubada que lutar.
Tratava-se, ao princípio, para Bachar el-Assad de resistir aos golpes do imperialismo. Mas quando se aproxima a vitória chegou-lhe o desejo de ir mais longe, de pôr em causa a desordem mundial. Descobriu-se como um verdadeiro líder revolucionário, exactamente como Hugo Chávez o tinha percebido, quando o mundo o tomava por um simples menino-do-paizinho (filhinho de papai-Br). E, a este título, qualquer que seja a perfídia de alguns politiqueiros, ele não pode deixar de tomar a defesa do povo palestiniano que os colonos israelitas massacram em Gaza.
A Revolução de Bachar el-Assad é primeiro uma luta(briga-Br) de libertação contra o obscurantismo religioso, que as monarquias wahabitas da Arábia Saudita e do Catar encarnam no mundo árabe. Ela pretende garantir a realização de cada um, qualquer que seja a sua religião e afirma-se, pois, como laica, quer dizer que ela se opõe ao conformismo religioso. Ela afirma que Deus não apoia nenhuma religião em particular, mas sim a Justiça comum para todos. De facto, ela reenvia a fé em Deus para o âmbito da esfera privada, para disso fazer a fonte da força que permite a cada um lutar contra um inimigo superior, em força e vencê-lo colectivamente.
Como todos os que atravessaram uma guerra, Bachar el-Assad não pôde admitir a ideia que os horrores cometidos o tenham sido por homens maus(ruíns-Br) colocando «os seus cravos no corpo sírio, semeando a morte e a destruição, devorando corações e fígados humanos, degolando e decapitando». Aceitá-lo teria sido perder toda a esperança na espécie humana. Assim, viu por trás das suas ações a influência do Diabo, manipulando-os através dos pretensamente denominados «Irmãos muçulmanos».
O nome do «Diabo» faz etimologicamente referência ao discurso dúplice que ele tem. O presidente el-Assad desmontou, pois, o slogan(eslogan-Br) de «primaveras árabes», imaginado pelo Departamento de Estado para colocar os Irmãos muçulmanos, por todo o lado, no poder no Magrebe, no Levante e no Golfo. Em todo o lado a sujeição ao imperialismo seguia as bandeiras coloniais, o da monarquia wahabita, dos Sénoussi na Líbia, o do mandato francês na Síria, ao mesmo tempo reclamando-se, paradoxalmente, da «Revolução» ao lado dos tiranos de Riade e de Doha.
A guerra foi para ele um processo pessoal longo. Viveu-a guiado pela sua moral: o «serviço do interesse público», o que os Romanos chamavam «a República», mas que os Britânicos consideram como uma quimera mascarando ambições autoritárias. Como Robespierre «o Incorruptível», ele compreendeu que este serviço não sofria nenhuma traição, portanto nenhuma corrupção. Seguindo o exemplo do seu pai, Hafez el-Assad, vive sobriamente e desconfia do luxo ostensivo de certos capitães do comércio e da indústria, mesmo que sejam das suas relações íntimas.
Tornou-se um líder revolucionário; o único chefe de executivo no mundo que sobreviveu a um ataque concertado de uma vasta coligação (coalizão-Br) colonial conduzida por Washington, e que foi amplamente reeleito pelo seu povo. Ao ter agido assim, ele entra na História.
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